Moda no Nordeste do Brasil: descubra marcas nordestinas

Fotografia reproduzida do Instagram: @davidleeoficial | 2022

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Quando pensamos em moda de referência no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro são as primeiras cidades que vêm à mente.  É inegável a importância dessas regiões na construção e disseminação da identidade da moda brasileira. No entanto, é fundamental refletirmos sobre quem está fazendo moda no Brasil, para que possamos ampliar nosso horizonte além do eixo sul-sudeste.

Sendo um dos maiores segmentos do país, com uma cadeia produtiva extensa que abrange diversos processos. Para quem não está dentro da indústria, é comum que a relação com o setor se dê apenas com a aquisição de um produto final, mas fato é que existem muitas etapas anteriores à chegada de um item ao mercado. Essas etapas acontecem em diversas regiões do território brasileiro, com uma participação significativa no Nordeste.

Nordeste: um polo têxtil em ascensão

Sem surpresas, o Nordeste é um dos maiores polos têxteis do Brasil e vem movimentando a economia, em especial em cidades como Fortaleza e Maracanaú, no Ceará (CE), Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco (PE), e a região de Seridó, no Rio Grande do Norte (RN). 

No Ceará e no Rio Grande do Norte, destaca-se a produção de algodão orgânico. Já mais abaixo do mapa, em Pernambuco, a confecção de tecidos, principalmente a produção do jeans-denim, tem destaque, sendo responsável por 17% do volume produzido para esta categoria no Brasil (Abravest).

Para se ter dimensão do cenário, só o estado de Pernambuco movimenta em torno de R$ 5 bilhões por ano com suas confecções, com inclusão produtiva, formal e informal, de mais de 24 mil pequenos empreendedores (G1, 2023). Em 2021, a região produziu mais de 800 milhões de peças de vestuário para o mercado nacional e internacional. Hoje, mais de 18 mil instituições têxteis estão presentes no território pernambucano.

Claro, atender à alta demanda requer investimento financeiro e eventos como o Agreste TEX, que promove debates sobre a indústria e obteve crescimento de 15% em 2022, movimentando cerca de R$ 300 milhões para os negócios têxteis, pré, durante e pós evento, apoiam esse crescimento.

O Rio Grande do Norte também tem se destacado na região, movimentando mais de R$ 4,5 bilhões na indústria até 2018, época em que gerou mais de 3 mil empregos e mais de 60 novas oficinas de costura (Tribuna do Norte). Com a consolidação deste mercado na região, o Governo Federal anunciou, no último ano, o investimento de R$ 19 milhões nas obras da Cidade da Moda, projeto desenhado para fortalecer “os arranjos produtivos têxteis” de Seridó. A perspectiva é que a iniciativa gere mais de 4 mil empregos e movimente 8 milhões de reais por ano quando concluída.

Nordeste: impulsionando a Economia Criativa na Moda no Brasil

Os números gerados pelas confecções no Nordeste acompanham o crescente desponte de criativos nordestinos, que têm incorporado à moda referências da música, gastronomia e arquitetura brasileira. Esses criativos têm feito da moda mais que um item a ser comercializado, mas um produto cultural poderosíssimo.

Diferente da economia tradicional e da grande indústria, este modelo econômico abre as portas para novas histórias e formas descentralizadas de criar. É a oportunidade que pequenos empreendedores têm para extrair seu potencial criativo e materializá-lo em produtos ou serviços funcionais e culturais.

 

Se eu pensar que o valor de um produto da economia criativa vem da inteligência e do conhecimento da história de um conceito de produto, as pessoas acabam pagando por esse valor, por essa lógica que determinado designer criou”, explica Carine Freire, coordenadora do curso de Bacharelado em Moda da Unisinos, ao Sebrae (2017).

 

Uma metodologia desenvolvida pelo Observatório Itaú Cultural (Veja, 2023) apontou que a indústria criativa e a cultura movimentaram, juntas, mais de R$ 230 bilhões de reais, o equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em 2020. Entre os diversos setores que compõem a indústria criativa, a moda se mostrou a mais representativa, com 50 mil empresas atuando nesse ramo.

O crescimento desses negócios traz benefícios para toda a sociedade, que tem suas demandas atendidas por meio de soluções inovadoras muitas vezes não consideradas pela grande indústria. Além de fortalecer e preservar aspectos culturais, a economia criativa enxerga novas possibilidades e busca solucionar problemas reais dos consumidores.

A moda autoral nordestina: um tesouro a ser descoberto

Quando voltamos nossa atenção para o Nordeste, encontramos soluções criativas que quebram paradigmas. No entanto, enquanto o Brasil não valorizar plenamente essa riqueza regional, os desafios de reconhecimento e valorização dos criadores persistirão.

Quem fala sobre o tema é Thaís Prazin. Nascida e criada em Recife, ela é Designer de Moda pelo SENAC Pernambuco e sonha com este segmento desde os 6 anos. Munida de referências que estão além das roupas, ela diz que ainda há muito para as pessoas conhecerem sobre a moda feita no Nordeste e reforça a necessidade de valorizar a cultura local:

 

A pessoa vai para a França e traz uma peça de renda renascença como se fosse coisa de outro mundo. Oxe, mulher, isso aqui é saber manual de Pesqueira!”, Thaís comenta, com bom humor, sobre a técnica centenária amplamente disseminada no agreste pernambucano, mais precisamente no Vale do Ipojuca.

 

Para Thaís, Recife, terra que abraçou grande parte da carreira de Chico Science – expoente do movimento contracultural manguebeat que, por sua vez, teve forte influência na moda nos anos 90 -, é um dos maiores polos criativos do Brasil. E quando o assunto é criatividade, ela parte para uma perspectiva mais ampla com inúmeras inspirações que vão além da moda, como a ecologia popular, música, design e economia circular.

Segundo a designer, as referências não faltam, falta espaço: para explorar, testar, produzir e materializar. Atualmente, ela busca oportunidades em outros lugares, mas com o objetivo de retornar à sua cidade natal, a Praia de Boa Viagem, e compartilhar o que aprendeu com sua comunidade. Ela acredita no potencial de um Pernambuco que há muito tempo fala e faz moda.

“Eu tenho uma coisa muito bonita… Eu ainda sonho muito”, comenta. 

Thaís é a representação das muitas criativas que lutam pelo reconhecimento e a valorização da identidade cultural local e pela conservação de um Pernambuco que fala sobre e faz moda há muito tempo.

Nordestesse e Nosso Encontro com o Instituto C&A:

Em 2023, a plataforma Nosso Encontro, idealizada pelo Instituto C&A para conectar pequenas marcas de moda autoral, ao marketplace da C&A Brasil, focou em território.

Ao entender a potência e desafios da moda nordestina, o Instituto C&A uniu-se a Nordestesse, que atua no fortalecimento de negócios da região, selecionando 10 marcas dos 9 estados, lideradas por mulheres, para que seus produtos pudessem ser apresentados para o grande público, em escala nacional.

Conheça as marcas:

  • Funlab (@usefunlab);
  • Carlotte (@carlotte.co);
  • Balbina (@sejabalbina);
  • Sherida (@sherida_____);
  • Demodé (@demode_atelie);
  • Carnávalia (@shopcarnavalia); 
  • Vem Meu Bem (@vemmeubemm);
  • Vivian Lazar (@vivianlazar.com.br);
  • Casa de Maria (@projetocasademaria);
  • Xique-xique (@associacao_xiquexique).

Outras marcas nordestinas que você deve conhecer:

Marina Bitu – (@marinabitu)

Em sua estreia na São Paulo Fashion Week N55, a marca Marina Bitu trouxe aspectos de uma Fortaleza ainda em desenvolvimento no início do século XX. Com peças drapeadas e franjadas, a moda cearense ocupou as passarelas e mostrou ao público o motivo pelo qual deve ser acompanhada: o encontro da história e a sofisticação.

 

 

PATÚ – @patu____________

Memórias cearenses materializadas em linho, bordado de corda e renda pela marca PATÚ encantam qualquer um com seu quê de resgate afetivo. Colocada no mundo por mãe e filha, Diana Souza e Marina Fontanari, a PATÚ busca subverter os estereótipos construídos sobre o Nordeste, ao mesmo tempo em que preserva, fortalece e celebra a identidade cultural local.

 

 

F O Z – foz_____

Fundada por Antônio Castro, a F O Z produz peças contemporâneas em linho e aposta em bordados feitos por artesãos alagoanos. Desde 2020, a marca propõe uma moda descomplicada, que atende às necessidades do consumidor atual e que valoriza o Brasil diverso e plural.

 

 

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