O Mercado da Cadeia Têxtil e de Confecções, cujo faturamento atingiu R$ 190 bilhões em 2021, emprega mais de 9 milhões de pessoas no Brasil, direta e indiretamente, sendo que 60% dessa mão de obra é feminina (Abit, 2023). Isso significa que, muito provavelmente, a roupa que você está usando passou pelas mãos de uma mulher! 🙂
Porém não significa que o setor é mais fácil para as mulheres por essa razão, ainda mais quando esse grupo é composto por tantas particularidades.
Mulheres são maioria nos cursos de moda e ocupam uma parcela significativa quando o assunto é decisão de compra no setor. Porém, entre as 50 maiores marcas de moda do mundo, apenas 14% são lideradas por mulheres, de acordo com a Forbes (2022). E quando esse cenário vai se afunilando ainda mais?
O ‘Mulheres na Confecção: Estudo sobre Gênero e Condições de Trabalho na Indústria da Moda’ (2022), realizado pelo UNOPS e ONU Mulheres Brasil, compreendeu o perfil das trabalhadoras na indústria da moda da Região Metropolitana de São Paulo e apontou que 80% das mulheres entrevistadas são mães. Desse grupo, 10% ficam com seus filhos e filhas no horário do expediente, fato que sobrecarrega ainda mais suas jornadas profissionais.
“Esse contexto pode gerar outras situações de vulnerabilidade, uma vez que os locais podem não conter a segurança ou infraestrutura adequadas para o cuidado de crianças. Isso se agrava quando tratamos de confecções ou oficinas em que o bem-estar das mães, das crianças e das mulheres gestantes não é priorizado, realidade que afeta não somente as trabalhadoras informais, mas também as formalizadas”, aponta o relatório.
Segundo o RAIS (2020), outro obstáculo enfrentado por esse grupo é a precariedade e a informalidade no setor, onde mulheres recebem, em média, 12% a menos que homens na mesma função. E cabe ressaltar que esse dado é passível de contestação se aplicado a outras interseccionalidades, como raça e território, por exemplo.
Em termos gerais, as mulheres, que normalmente ficam responsáveis pela Economia do Cuidado, temática abordada em relatório pela consultoria Think Olga (2021), ainda têm de enfrentar a disparidade salarial, realidade que influencia a qualidade de vida e os acessos dessas trabalhadoras.
Esse cenário escancara as desigualdades sociais no Brasil e limita as possibilidades de desenvolvimento da carreira desse grupo. O IBGE (2021), em matéria divulgada pelo UOL, apontou que 89,2% dos homens que têm filhos ocupam alguma posição no Mercado de Trabalho, mas, tratando-se de mulheres que estão sob a mesma condição, esse número cai para 54,6%. Não existe, no entanto, um motivo único para esse número existir; ele se constitui a partir de uma série de razões subjetivas que acometem cada mulher em seus respectivos contextos sociais, econômicos e políticos.
Esses são só alguns dados que revelam a estrutura de desigualdade de gênero promovida na Indústria da Moda e que ilustram os principais desafios enfrentados por essas trabalhadoras, em particular as que exercem o maternar.
“A maternidade é um fator importante ao se pensar nas vulnerabilidades advindas dos papéis de gênero, uma vez que a carga relacionada ao cuidado com as crianças é comumente direcionada às mulheres. Na situação de mães trabalhadoras, diversas questões devem ser consideradas, especialmente quando se encontram com outros fatores como condições precárias de trabalho e moradia”, trecho retirado do ‘Mulheres na Confecção: Estudo sobre Gênero e Condições de Trabalho na Indústria da Moda’.
Por outro lado, a pesquisa indicou que promover a participação desse grupo em cursos é uma das maneiras de mitigar os desafios de renda e moradia, uma vez que o capacita para noções de negócios e gestão financeira, ao mesmo tempo que oferece conhecimento sobre direitos trabalhistas.
O Instituto C&A, por meio de parcerias, tem desenvolvido diversas ações que colocam populações vulneráveis em foco. As iniciativas são direcionadas ao desenvolvimento de múltiplas habilidades, tanto técnicas quanto socioemocionais, a fim de garantir a qualificação desses grupos para o mercado de trabalho na moda.
Um exemplo é o Capacita 40+, curso desenvolvido com o Instituto Focus Têxtil com ênfase na técnica de upcycling para o público feminino com mais de 40 anos. A iniciativa ofereceu mais de 30 horas de conteúdo e bolsa de R$ 1.500 para as participantes durante o projeto.
Mesmo com os desafios, a moda ainda ocupa uma posição de possibilidades.
Pois é, a moda ainda é um espaço de expressão cultural e luta por emancipação financeira para muitas mulheres, principalmente sob a ótica do Empreendedorismo, atividade que cresceu 41% entre o grupo em 2021 (Correio Braziliense, 2022). Contudo vale lembrar que a jornada empreendedora não é menos complexa só porque não está sujeita às regras dos contratantes.
Izabela Matias, co-fundadora e diretora criativa da Kioo Moda, relembra que foi um estalo da maternidade que a fez empreender ao lado de seu companheiro Glauber Marques:“Foi procurando e não encontrando uma roupa que representasse o nosso filho, uma criança negra, que entendemos que tínhamos de endereçar um desafio do mercado da moda”, comenta.
![Izabela, Murilo e Glauber para Entrelinhas. Fotografia de Fernando Mendes, 2022.](https://institutocea.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Copia-de-Kioo-Moda-Dendezeiro-3-scaled.jpg)
Mesmo que reconheça todos os desafios de empreender no Brasil, inclusive com maiores dificuldades de acesso a crédito e investimento por ser mulher, Izabela comemora as conquistas que vêm por ter uma marca focada na construção de novas narrativas para infâncias pretas: “Finalmente nós podemos possibilitar algo que não tivemos: representatividade”.
Conheça e acompanhe mães que estão no corre na moda!
Izabela Matias está no comando da Kioo Moda. Direto da Zona Leste de São Paulo, na Vila Granada, a Kioo Moda tem o compromisso de levar moda com representatividade para as crianças, ao mesmo tempo que trabalha para construção de imaginários seguros sobre a infância preta.
Rendeiras da Aldeia é uma marca gerida por um grupo de mães. Formado em Carapicuíba (SP) com o apoio da OCA – Escola Cultural, o grupo Rendeiras da Aldeia é composto por mães residentes da região que fazem um trabalho exclusivo e sofisticado com a técnica da Renda Renascença.
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Ojire Ventura é fundadora da marca Ojire Art que valoriza a ancestralidade. Formada a partir de estudos das culturas africanas e afro-brasileiras, a Ojire Art é resultado de um trabalho artístico e documental. Com peças contemporâneas, a marca valoriza os costumes e a estética afrodiaspórica.
Essas são algumas marcas apoiadas e capacitadas pelo Instituto C&A. Para saber como o pilar social da C&A Brasil tem somado esforços para reduzir as desigualdades no país por meio da moda, acompanhe as redes sociais: Instagram, LinkedIn, Facebook e YouTube.