Moda autoral: um caminho possível para a moda no Brasil

Fotografia: Cesar La Rosa | Reprodução do Unsplash | 2019

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Diferente do que se imagina, a Moda Autoral não corresponde única e exclusivamente a desenhos ou estampas originais de um artista. Isso também faz parte, mas o termo diz respeito a um processo minucioso que zela pelo acompanhamento da produção de ponta a ponta, desde a escolha de matérias-primas até a entrega final do produto.

Para compreender o lugar que a moda autoral ocupa no mercado, é indispensável relembrar que ela se dá a partir de um movimento contrário ao Fast Fashion, que, apesar de oferecer uma ideia de democratização da moda, possui processos produtivos pouco visíveis e tem como premissa a produção em larga escala. O Slow Fashion, movimento intrínseco à moda autoral, no entanto, contesta exatamente esta forma de produzir e consumir moda, subvertendo a lógica do mercado e atuando na promoção de uma cadeia produtiva mais ética, responsável e transparente.

 

Para exemplificar o que separa os dois conceitos, cabe a reflexão: É possível que você não saiba quem fez aquela roupa/acessório que você comprou em uma loja de departamento, mas se você tem uma peça da Azulerde, certamente sabe que ela foi idealizada, produzida e comercializada pela Karla Batista.

 

No caminho para uma moda mais responsável e consciente, as tendências globais/regionais e a lógica da venda imediata e massiva não são determinantes para o lançamento de um produto ou coleção. O que importa nesse processo é a subjetividade do artista por trás de uma marca e qual história, embalada por suas vivências pessoais, ele quer contar. E se tratando de histórias, é claro que existem muitos personagens.

Por ser um processo minucioso de acompanhamento, as marcas de moda autoral têm como característica trazer visibilidade à toda cadeia de produção ao priorizar e empregar mão de obra local, pagando salários dignos e promovendo justiça social para os produtores que são invisibilizados pela grande indústria. Tal feito impacta na geração de renda para as comunidades às quais esses criativos pertencem, além de fortalecer a cultura e identidade locais.

No Brasil, é possível viver de Moda Autoral?

Nos últimos anos, foi possível acompanhar a ascensão de diversas marcas de moda autoral no Brasil, muitas fazendo parte do line-up da São Paulo Fashion Week, inclusive. Helo Rocha, Dendezeiro e Apartamento 03 são alguns dos exemplos que colocaram suas coleções nas passarelas do maior evento de moda da América Latina. 

Existem ainda diversas marcas que estão fazendo a diferença na indústria e apostando em uma moda regenerativa e sustentável, como a Nalimo, idealizada pela stylist, estilista e diretora criativa indígena Day Molina. Liderada 100% por mulheres, a Nalimo desenha peças com “fortes códigos ancestrais e estética minimalista; sendo de matéria-prima biodegradável e comprometida com o meio ambiente”, como o próprio site sinaliza.

Produções da Nalimo. Reprodução: Instagram @oficialnalimo.
Produções da Nalimo. Reprodução: Instagram @oficialnalimo.

Sejamos honestos, empreender no Brasil é um desafio, principalmente quando se trata de moda, a gente sabe. Contudo, conseguir desenvolver uma coleção que conta a sua história e te leva a ocupar espaços que são negados para muitas populações, é absolutamente relevante. Nessa jornada, você pode contar com instituições que apoiam e fomentam o Empreendedorismo de Moda no Brasil, como o Instituto C&A, que, por meio de 4 frentes de atuação, busca construir novos futuros e ampliar as possibilidades de atuação no setor.

Agora, na prática, se você sonha em trabalhar nesse meio, é importante saber que existe um lugar pelo qual você pode começar:

1. Estude o mercado e se conecte com pessoas.

Parece meio óbvio, mas pesquisar e saber o que outras marcas de moda autoral estão fazendo é fundamental. Mapeie os negócios com os quais você mais se identifica e procure pelas pessoas criativas que estão por trás deles, afinal, essas pessoas podem te trazer uma percepção maior sobre os desafios e as possibilidades do mercado, além de ser uma ótima oportunidade para se fazer lembrado. 

2. Chegou a hora de contar a sua história para o mundo!

Toda pessoa tem uma história para contar, o que acontece é que às vezes a gente esquece ou acha que não é tão relevante assim. A compreensão da sua trajetória e a capacidade de construí-la como seu propósito, pode ser sua melhor amiga nessa jornada. É a partir daqui que você vai conseguir entregar um diferencial para o mercado. Vá além do produto: conte da onde você veio e para onde quer ir. 

3. Ninguém joga sozinho.

Empreender pode ser muito solitário, mas se cercar de boas pessoas pode tornar o seu sonho mais possível de ser realizado. Ter uma rede de apoio nesse momento é muito importante para que você se lembre que tem pessoas que acreditam e torcem por você, além de poder aproveitar outros talentos. Tem um amigo que sabe fazer sites? Chama ele para dar aquele tcham no seu. Não esquece da amiga que ama planilhas e sabe se organizar como ninguém ou daquela que gosta de dar pitacos sinceros e construtivos nas suas criações. Moda autoral, no final do dia, é sobre coletividade.

4. Procure por parceiros que possam apoiar o seu corre na moda!

Dar início a um sonho pode ser muito difícil, mas conte com parceiros para começar. E quando a gente fala de parceiros, falamos de pessoas e instituições. O Instituto C&A, por exemplo, tem promovido diversas ações em suas frentes de Empreendedorismo e Empregabilidade, fortalecendo carreiras na moda independente do formato: seja por vias empreendedoras ou no mercado formal. 

Como as novas práticas de consumo se conectam com moda autoral.

Fato é que o consumo está cada dia mais conectado aos valores pessoais de cada indivíduo, principalmente com a mudança de hábitos no pós-pandemia. Muitos consumidores estão direcionando suas decisões de compras àquelas marcas que oferecem mais que um produto, mas propósitos ligados aos seus.

Com a alta frequência do tema ESG – Meio Ambiente, Social e Governança, em português -, nas agendas corporativas e discussões públicas, ficou ainda mais nítido a urgência e procura por marcas que prezam pela conservação ambiental, valorização do social e que estão efetivamente comprometidas com sua gestão de transparência.

Uma pesquisa realizada em 2021 pela Opinion Box, apontou que 67% dos consumidores brasileiros procuram conhecer o histórico de práticas sustentáveis de uma marca antes de consumi-la. Na mesma linha, 57% já deixou de consumir produtos depois de descobrir quais os impactos ambientais que aquela confecção causa.

Foi-se o tempo que a compra se resumia à utilidade do produto. A mesma pesquisa mostrou que 58% dos consumidores acreditam que as marcas devem apoiar causas sociais como combate à fome e à pobreza, além de terem de se posicionar sobre desigualdade racial e  violência de gênero.

Se a Moda Autoral, sem entrar nos pormenores, tem por definição um processo acurado de acompanhamento das etapas de produção, ela está cada vez mais conectada com diversos aspectos que se fizeram importantes para os consumidores nos últimos anos. Diferente dos modelos comerciais, esse formato de se fazer moda entrega um produto altamente durável, com propósito e exclusivo, além de cumprir um papel imaterial de reconhecer e valorizar outros tipos de vivências e bagagens culturais.

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