No dia 25/05 é celebrado o Dia da Costureira, profissional responsável por cada dobra e ponto de toda e qualquer roupa que a gente vê por aí. E, sim, a data carrega o substantivo feminino porque esta classe trabalhadora é constituída maioritariamente por mulheres: 87% das pessoas que atuam com costura são do sexo feminino, segundo a Abravest (ONU, 2022).
Este ofício carrega um quê ancestral e faz parte da memória afetiva de muitas pessoas que cresceram com avós e mães costureiras, porém a profissão ainda está em um lugar de subvalorização, mesmo sendo a parcela mais expressiva da indústria da moda, com mais de 1 milhão de trabalhadoras no Brasil. Muitas dessas mulheres permanecem no mercado informal e enfrentam a precariedade e o preconceito da classe.
Um estudo realizado pela ONU (2022) indicou que mais de 62% das costureiras trabalham em suas casas e 51% não possuem carteira assinada. Tal cenário implica em diversos desafios, principalmente de renda, já que o setor tem uma alta demanda de mão de obra e pratica preços menores na comercialização e, por consequência, na produção dos itens.
Sistemicamente, a indústria elabora a lógica massiva de distribuição de peças, onde mulheres costureiras são as principais impactadas. Cria-se, então, o imaginário de uma profissão que não possui valor, uma vez que as atuantes cumprem cargas horárias exaustivas, não têm salários e condições de trabalho dignas, além de serem privadas de seus direitos universais como acesso à moradia, educação e saúde.
A matemática é bem simples. Onde há grupos vulneráveis, a exploração se instala. Por isso, a discussão sobre trabalho análogo à escravidão ganhou tanto destaque nos últimos anos. Em 2021, a campanha ‘Trabalho Escravo Nunca Mais #somoslivres’ do Ministério Público do Trabalho com a Organização Internacional do Trabalho e a Universidade Estadual de Campinas, focou em promover o debate sobre trabalho decente e inclusão produtiva desse grupo na indústria da moda. O lançamento proporcionou capacitação profissional para as mulheres vítimas deste crime, além de oferecer a materialização das peças criadas por elas em um desfile realizado no Museu da Imigração em São Paulo.
Ignorar esta realidade, no entanto, não é a solução. Muito pelo contrário, não refletir sobre a precarização e exploração do trabalho das mulheres que vestem o Brasil só serve para manter o estado de invisibilidade que esse grupo foi submetido. Celebrar o dia 25/05 é o pontapé para fomentar o debate a respeito dos direitos de mulheres costureiras e da valorização de seus trabalhos em um dos maiores setores do país.
Enquanto figuras da sociedade civil que constroem e pautam discussões públicas, é dever de cada indivíduo fazer dessas mulheres protagonistas na reivindicação pelas suas demandas, além de participar ativamente no desenvolvimento de políticas públicas e afirmativas que garantam o acesso dessas trabalhadoras aos seus direitos básicos.